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As crianças são ótimas observadoras, mas “péssimas” intérpretes.

27 de junho de 2024

As crianças são ótimas observadoras, mas “péssimas” intérpretes.

O cérebro da criança é algo absurdamente impressionante. Nem vou me atrever a escrever muito sobre isso aqui agora porque estaria sendo injusto com alguma parte ou função dele. Para mim, tudo é interessante. O bom é que não faltam documentários para fazer esse trabalho (e de forma bem mais competente que eu jamais poderia). Contudo, temos de elaborar um tema, não é? Vamos pegar então a capacidade de absorver informações que ele tem. 

Sabe quando dizem que as crianças são uma esponja? É isso. O que cai ali, vai pra dentro. Essa capacidade maravilhosa de absorção vem, dentre outras formas, da observação. E como observam, não é? Do nada eles falam ou fazem algo novo surpreendente. “Mas onde aprendeu isso? Não fui eu quem ensinei!”. É mais ou menos por aí que a banda toca. 

Desde muito cedo as crianças observam. Só que não para por aí. Elas reproduzem, e em algumas situações isso pode ser um problema grande. 

Esses dias me contaram um caso de um menininho com mais ou menos 3-4 anos. Ele na creche apresentava constantemente um comportamento específico (e problemático). 

Ali havia, aparentemente, uma garotinha a quem ele era muito afeiçoado e cotidianamente tentava se aproximar dela. O problema é que a forma como ele fazia isso não era saudável. 

Por vezes ele tentava brincar junto, mas aí apresentava um comportamento padrão: batia e agredia a garotinha e logo depois tentava abraçá-la e beijá-la. 

Já conseguimos minimamente traçar um raciocínio, certo? Provavelmente, ele observava esse comportamento em casa, com os pais, onde algum deles agredia o outro e logo em seguida tentava uma aproximação carinhosa. 

Obviamente essa criança não conseguia interpretar essas atitudes. Talvez ali, para ela, para a família dela, o normal seja a agressão seguida de carinho. Ele absorveu isso e reproduziu fora de casa. 

Esse é o normal para ele. Ele é um ótimo observador, repito; contudo, um “péssimo” intérprete. Acho que até aqui não contei nenhuma grande novidade, mas acredito que a questão principal que queria trazer é a parte do interpretar. É aqui que muitos pais se perdem. Achou que eu ia falar da criança, não é? Não, a coisa é com você mesmo, caro adulto. 

O garotinho do exemplo ainda não aprendeu a fazer um juízo moral e ético da situação porque ainda é biologicamente imaturo. Já falei um pouco sobre essa capacidade de gerenciar informações, entender causa e consequência, e internalização de regras que o cérebro tem em um outro texto. Isso tudo é manejado pelo Lobo Frontal, que é uma parte bastante complexa da nossa cabeça e só termina de se formar lá pelos 30 anos (sim, 30 anos. Ficou curioso? Dá uma olhadinha no texto que escrevi sobre isso).

Portanto, ele não tem capacidade para isso ainda. Precisa sim, claro, ser ensinado. Mas, antes de tudo, compreendido. 

Essa situação me faz pensar em algumas coisas: 

1 - Precisamos prestar sempre muita atenção em como agimos e o que falamos perto das crianças. Elas estão absorvendo TUDO. Nosso papel enquanto adultos já formados é fazer um constante papel de curadoria com as crianças. O que eu estou dizendo impacta ela de que forma? O que eu faço transmite que mensagem? A expressão do meu rosto está comunicando o que? Às vezes são coisas muito simples às quais não nos atentamos, mas atingem nossas crianças de uma forma ou de outra. 

2 - Temos de entender que crianças estão em formação constante e não devemos rotulá-las por conta de comportamentos disfuncionais (o garotinho não é uma pessoa ruim, ele precisa ser orientado). Sabe aquela criança que a gente chama de “difícil” (para usar um termo mais aceitável no texto, porque eu sei que podemos usar nomes mais cruéis)? Então, quantas vezes a gente se pergunta os motivos de tais comportamentos aparecerem? O tema do mal comportamento me fascina muito e prometo escrever sobre ele aqui um dia. Cada vez que eles aparecem, trazem consigo uma mensagem a ser decifrada e é possível a gente aprender a ler isso de forma bastante eficiente e empática. Pode deixar que um dia a gente fala sobre isso. 

Acho que agora podemos prestar um pouco mais de atenção em todo o conteúdo que estamos deixando nossos filhos observarem e absorverem, certo?


Henrique Costa Barros
Psicanalista e Educador Parental
@paz_e_filhos