Como fazer o que é preciso, mas mantendo a amorosidade?
12 de setembro de 2024
Ninguém gosta de brigar, certo? Pelo menos, espero que não. Dar bronca ou forçar a criança a fazer alguma coisa é desgastante, apesar de por vezes ser necessário. Bom, mas o que fazer então? Uma alternativa possível é ser gentil e firme... ao mesmo tempo. Mas, é possível isso? Vamos começar esclarecendo o que é uma coisa e outra.
Ser gentil é entender o mundo interno da criança, suas necessidades, desejos, forma de existir, compreender sua realidade. É reconhecer o ponto onde ela está, suas capacidades, seu jeitinho. Isso é primordial para qualquer coisa na parentalidade, além de ser extremamente respeitoso e empático. Lindo, não é? Sim. Mas, é só parte do quadro geral.
Ser firme é entender o mundo externo onde ela está inserida e todos seus elementos. É entender que o contexto de vida onde todo mundo está inserido tem regras, demandas, necessidades de outras pessoas, compromissos. Temos uma rotina, planos, afazeres. Isso é importante, certo? Sim. Pois é, essa é a outra parte do tal quadro geral.
Geralmente aprendemos a ser pais gentis OU firmes, mas nunca os dois ao mesmo tempo. A sociedade fica empurrando a gente para os extremos. Ou a gente tem de ser pais “Raiz” ou pais “Nutella” (particularmente, essa terminologia barata me irrita profundamente...). Sempre tem alguém falando que a gente deveria ser mais bravo, ser mais legal, mandar mais, perguntar mais.
Mas, vocês podem me perguntar, “Henrique, você não está fazendo a mesma coisa?”. Prefiro que vejam meu trabalho como licença poética, por gentileza. Mas, voltando. A gente até fica “pulando” de um para o outro, não é? Às vezes a criança demanda muito da gente, perdemos a cabeça e acabamos assumindo uma postura rígida. Aí aparece a culpa e acabamos tentando compensar sendo permissivos demais. Quem nunca viveu isso ou outras situações parecidas?
De novo, ser gentil é entender, respeitar, validar e reconhecer o que seu filho está passando ou sentindo naquele momento. Ser firme é entender o contexto da situação, as pessoas envolvidas, as necessidades mais importantes, os combinados, as regras, e não abrir mão disso, pois também são coisas indispensáveis. Usar essas duas abordagens simultaneamente é fazer o que precisa ser feito da forma mais amorosa e produtiva possível.
Olha o exemplo: Criança no parque brincando e está chegando a hora de ir embora. Alguns minutos antes, o cuidador avisa a criança que está chegando a hora de ir (respeito pelo tempo da criança, para que ela não seja pega de surpresa). No momento de ir, o adulto vai até a criança, avisa que chegou a hora e começa a encaminhá-la para outro lugar de forma gentil e amorosa. Se a criança começar a chorar ou protestar, o adulto acolhe essa manifestação sem julgamento (“poxa filho, você queria muito continuar brincando, não é? Parece que você ficou chateado. Eu também às vezes quero ficar mais tempo aqui, e ao mesmo tempo, precisamos ir para casa, então iremos embora agora e outro dia voltamos”). Depois disso, simplesmente pegue a criança e vá embora, acolhendo seu choro em abraços e palavras de conforto.
Percebe que o que precisava ser feito, foi feito? O cuidador não deixou de respeitar o horário estabelecido, nem a necessidade de ir embora, mesmo sobre protestos e choros. Isso é ser firme. Ao mesmo tempo, ele acolheu com gentileza e amorosidade o sofrimento daquela criança, que é bastante real no mundo dela. Esse acolhimento permitiu que a criança se expressasse, se acalmasse e aprendesse a confiar no cuidador como sendo um porto seguro.
Talvez o caminho seja esse meio termo, não é? Eu penso que sim. Tanto o mundo quanto a criança têm sua demanda, sua importância. Balancear e unir as duas coisas me aprece uma forma mais interessante de viver a parentalidade.