Dica prática para desenvolver a autonomia da criança no banho
13 de junho de 2024
Todo mundo quer um filho autônomo. Queremos que eles sejam adultos funcionais, independentes e que saibam viver bem (e não só sobreviver). Isso requer atenção, energia, paciência e... treino, muito treino. Ninguém desenvolve habilidades do dia para a noite.
É possível desenvolver tais habilidades em qualquer momento da rotina. Apesar de bem simples, essas atitudes fazem uma grande diferença a longo prazo. Não estou romantizando não, gente. É cansativo, tudo demora 3x mais, a casa fica mais suja, a gente se atrasa para os compromissos, mas é isso, esse é o caminho. Acreditem, o preço vale a pena.
Bom, vamos escolher aqui um momento pra gente destrinchar um pouco. Existe um jeito bem fácil e prático de ajudar a desenvolver a autonomia dos filhos na hora do banho (essa dica é para crianças que já têm capacidade de ficarem sozinhas sem se machucarem).
Após dar o banho na criança, ou caso ela o faça sozinha, diga claramente que em algum momento você voltará para checar se ela JÁ SE SENTE PRONTA para sair. Isso dá a ela a capacidade de se organizar e julgar se terminou sua rotininha no chuveiro.
Caso, ao ser perguntada, ela queira continuar no banho, avise que entende e que voltará mais tarde OU que você voltará quando for solicitada pela criança.
Coisa simples né? Mas denota coisas bem importantes. Isso demonstra que você confia e respeita o tempo dela.
Aqui em casa, fazemos isso com o Bernardo desde mais ou menos 1 ano e 4 meses, e tem dado bem certo. Ele demonstra bem claramente quando quer continuar lá e chama quando quer sair. Sempre buscamos respeitar muito o tempo dele (confesso que as vezes eu gostaria que ele ficasse mais tempo lá só para eu poder terminar aquela louça que ficou, varrer o chão da cozinha ou só respirar um pouco mais, mas ele tem uma agenda bem diferente da minha).
Pode ser que seja necessário treinar a criança a ficar sozinha, ou adaptar o ambiente pra ela com piso emborrachado, brinquedos ou livros de banho. Contudo, o resultado é bem interessante, por diversos motivos.
Primeiro, já se reforça a ideia de que ela tem a oportunidade e espaço para decidir algumas coisas sozinha no que se refere às suas próprias vontades ou seu corpo. O que muitas pessoas esquecem é que criança é gente, tem desejos, direitos, seu jeitinho de estar no mundo. Elas são sujeitos. Quando a gente demonstra no cotidiano que os vemos dessa forma, isso fica internalizado, passa a ser parte deles. Para serem autônomos, eles precisam se sentir assim, precisam viver essa experiência. Essa noção é bastante interessante de se trabalhar.
Uma outra vantagem é a oportunidade para o adulto abrir mão do controle desnecessário. Claro que criança precisa de suporte, limite, coordenação. Mas, a gente precisa aprender a sair de cena. Devagarinho, mas a gente tem de sair. Tudo começa pequeno e com o tempo vai crescendo, ficando mais complexo, mais maduro. Para o seu filho poder realizar o sonho de morar por um ano fora do Brasil, por exemplo, ele precisa se sentir empoderado pra isso, sem se preocupar em demasia com o bem-estar dos pais nesse processo. Você, mãe, pai, precisa deixar ele ir para a vida com segurança, sem ficar arrancando os cabelos por causa das novidades da independência. Não se engane, a criança percebe quando você confia nela, então aprenda a abrir mão do controle.
Uma terceira ainda é um tempo livre que pode ser bem útil para o cuidador organizar ou preparar qualquer necessidade rápida da casa enquanto a criança está distraída. Queria muito que o Bernardo gostasse mais de banho e me desse um tempinho a mais, mas acho que terei de esperar que ele cresça e comece a querer ficar cheiroso para alguém da escola.
Independente do cenário da sua realidade ou das adaptações necessárias, essas pequenas coisas fazem muita diferença a longo prazo e trazem resultados maravilhosos.
Henrique Costa Barros
Psicanalista e Educador Parental
@paz_e_filhos