Lógica e desejo para crianças pequenas
01 de agosto de 2024
Não sei vocês, mas aqui em casa às vezes eu olho para o Bernardo e penso: “não é possível que ele está fazendo isso, que não entende o que eu falei, eu acabei de explicar!”. Algumas coisas para a gente são tão claras e óbvias, mas com eles parece que mesmo coisas simples tornam-se “um parto”. Se pelo menos eles fizessem essa coisinha aqui, iria facilitar tanto! É gente, mas não é bem assim que o mundo deles funciona.
Antes da gente começar a explorar esse tema, temos de trazer alguns pontos básicos que, talvez, possam não estar tão claros para todo mundo. Criança vive a base de desejo.
Você já deve ter notado que seu filho tem uma forma muito particular de pensar, que na maioria das vezes não segue muito a lógica e o senso comum. Por exemplo, ele não entende que é muito mais vantajoso ele parar a brincadeira por 2 minutinhos e ir até um lugar mais confortável do que ficar embaixo do Sol quente ou da chuva. Não, para ele não faz sentido nenhum parar aquilo que ele está fazendo. O aqui e agora é o que importa para ele, é praticamente tudo que existe. Ele é movido por puro desejo, não lógica, pensamento racional e outras funções mais complexas, como nós adultos.
Compreender isso pode ser extremamente útil porque ajuda a gente a manejar melhor as coisas que acontece no dia a dia. Vou tentar trazer exemplos práticos.
Vamos imaginar aqui uma criança que quer brincar pulando no sofá de uma forma perigosa. O pai rapidamente percebe a situação e fala para a criança parar de fazer aquilo. Não dá certo, ela continua. Ele repete, mas agora brigando com a criança. Não fez muita diferença, então ele começa um discurso sobre como aquilo pode acarretar um machucado grave, que a saúde dela é importante, que ela precisa obedecer, que ele já falou várias vezes, que ela sempre faz isso... blá blá blá... a criança não está mais escutando, o pai está se desgastando e provavelmente a coisa vai acabar com alguém muito irritado, triste ou chorando.
Se levarmos em conta o que estamos discutindo no texto, dá para ver que isso que pai fez não funciona porque o desejo de pular e de brincar está pulsando muito forte na criança. No aqui e agora é tudo que importa. Então o que fazer para proteger a criança e ao mesmo tempo conseguir a cooperação dela, respeitando a forma dela de entender as coisas? Uma dica bem bacana é a distração.
Basicamente a gente trabalha com o redirecionamento dessa energia para alguma alternativa. É como se fossemos pegar uma bateria e trocar de um carrinho para o outro. A distração é colocar a atenção dela em alguma coisa que seja mais apropriada.
Faça assim: use poucas palavras para os comandos novos, algo simples como “brinque no chão”. Isso deixa claro para ela o que fazer, para onde se direcionar. Para ela isso é muito mais fácil de entender do que “não fazer alguma coisa” (elas são mais concretas, então “se eu não posso usar minha energia aqui, coloco ela onde? Isso não me é muito útil”)
Uma outra alternativa é simplesmente pegar a criança e fisicamente colocá-la no chão, imediatamente já distraindo a atenção dela com alguma coisa. Algo como: “olha aqui esse carrinho, você manda ele pra mim e eu de volta pra você, vamos!”
Percebem como essas formas de manejo respeitam a capacidade natural da criança? Quando a gente conhece a forma como ela funciona, podemos com mais facilidade conseguir a cooperação delas, mantendo o bem-estar de todo mundo.
Olha, não vou prometer que isso vai funcionar 100% das vezes. Nada com criança funciona sempre. Existem outras ferramentas de manejo bem interessantes como o “até 10 palavras”, “escolhas limitadas” e “tempo de qualidade”. Mas, vou deixar para falar delas em outro momento, tá bom?
Fico na torcida aqui para que tudo dê certo. Um abraço!
Henrique Costa Barros
Psicanalista e Educador Parental
@paz_e_filhos