“O que é isso que eu sinto?” - Pais que trabalham as emoções com os filhos
14 de novembro de 2024
As emoções são uma parte essencial da nossa existência, não são? Já reparou quanta coisa elas comunicam pra gente? Elas falam tanto sobre nós que somos capazes de diferenciar uma pessoa da outra pelas suas reações emocionais frente à mesma coisa.
Vou tentar explicar melhor...
Tem um exemplo muito interessante sobre como cada pessoa reage emocionalmente de forma diferente a uma mesma situação. Todo ano um programa de televisão nos Estados Unidos pede para que os pais gravem um vídeo da reação emocional de seus filhos quando dizem a eles que, na noite do Dia das Bruxas, depois que as crianças voltaram para casa com os doces e dormiram, eles comeram todas as guloseimas escondidos delas e não sobrou nada. Cada criança, ao ouvir isso, reage de uma maneira. Umas choram de tristeza, outras ficam com muita raiva e outras ficam calmas. Bom, depois os pais dizem que aquilo é brincadeira e as crianças ficam aliviadas.
Particularmente, sou contra qualquer tipo de exposição infantil para entretenimento, mas estamos usando isso a título de exemplo.
Aqui, a situação é a mesma, mas cada criança responde de um jeito. Estamos então até aqui, alinhados. As emoções são importantes e cada pessoa tem seu padrão de reação particular.
Agora, o que fazer com isso?
Minha dica aqui para vocês, caros colegas pais, é que a gente trabalhe com as crianças a identificação e mensuração dos sentimentos, bem como a ampliação do vocabulário emocional delas. Colocando de forma mais simples, a gente tem aqui a oportunidade de trabalhar com elas a percepção que sentem algo, a nomeação disso que elas sentem e a intensidade.
“Nossa! Parece muita coisa!”, você pode pensar. E talvez até seja, mas acho que podemos deixar isso mais simples do que parece.
Primeiro, com crianças pequenas a gente precisa ser mais restrito, trabalhar com pouca coisa. Pensando em sentimentos, podemos nos limitar a 4: alegria, raiva, tristeza e medo (quase a turma toda do filme Divertidamente, o que facilita a assimilação).
Aqui, a gente pode pensar estratégias para nomear esses sentimentos com eles. Podemos usar livros infantis que trabalham essa temática (gosto muito da “Coleção Sentimentos”, da editora Bom Bom Books Educacional, escrita por Fabio Gonçalves Ferreira). Podemos assistir filmes e desenhos animados com eles, conversando sobre o conteúdo apresentado que se relacionem com essa temática das emoções (indico o desenho Bluey e Pete, o gato). E, claro, a boa e velha “nomeação in loco”, ou seja, no momento que nossa criança tiver algum tipo de manifestação emocional, a gente nomeia isso junto com ele na hora (“isso que você está sentindo é medo”, “você ficou assustado porque o cachorro latiu muito alto” ou “quando você grita e joga as coisas, você está com raiva”).
Não precisa ser nada muito complexo, gente. Vamos nos manter no simples.
Agora que eles teoricamente já sabem os sentimentos possíveis, precisamos ajudar eles a identificá-los nas situações. Uma forma muito bacana de fazer isso é pegar uma folha sulfite com círculo no meio. Esse será o rosto que a criança vai desenhar. Você pode perguntar para ela: “quando alguém sente raiva, como fica o rosto dela? E alegria? E tristeza...?”. Ela então, vai treinando identificar elementos de cada expressão emocional. Por fim, essa atividade pode ser aplicada nela mesma, em situações específicas (por exemplo: como você ficou quando seu colega de sala te empurrou? Quer desenhar isso no papel?”).
Legal, até aqui, ela já aprendeu a nomear o que sente, identificar e até expressar por desenhos (até que não é tão complicado, certo?).
Por fim, vamos ajudar elas a entender intensidade. Essa parte é mais complexa para eles. Geralmente crianças entendem sentimento em termos de “sim ou não”; ou tenho raiva ou não tenho raiva. É como um interruptor, ou está ligado, ou não. A gente pode começar a trabalhar com eles a ideia de que as coisas têm camadas, níveis, intensidades diferentes.
Para fazer isso, vou dar duas dicas simples.
A primeira é usar o farol de trânsito como referência. Como é algo que elas conhecem, fica mais fácil. Assim, o verde é pouca intensidade, o amarelo é média e o vermelho é muita intensidade. Você pode colocar a imagem de um farol na parede do quarto dela e usar como apoio (por exemplo: “filho, parece que você está com raiva agora, sua raiva está pouquinha, assim no verde, média, no amarelo, ou com muita raiva, aqui no vermelho?”) A outra dica é usar um copo de plástico descartável, traçar duas linhas nele com canetinha (1/4 do volume e depois ¾ do volume). Em seguida, pegue qualquer líquido e peça para a criança encher o copo até a linha de intensidade da emoção. Se ela estiver, por exemplo, pouco triste, enche até a primeira linha, se médio triste, vai até a segunda, e se estiver muito triste, enche o copo. Você pode desenhar rostinhos no copo para ajudar ela a entender a mensuração, ou mesmo usar líquidos de cores diferentes para sentimentos diferentes.
Ufa! Quanta coisa...
Essas atividades são simples de se fazer com elas e desenvolve bastante suas habilidades pessoais com as emoções. No médio e longo prazo, isso vai fazer uma diferença enorme na vida dele, pode acreditar.
Ah! E não fale para seus filhos que você comeu todos os doces deles, não grave isso e não poste, por favor. Não precisamos expor os pequenos, certo?