Sua criança (ainda) não entende tempo da mesma forma que você.

Não sei se vocês colegas se lembram ou se conhecem essa informação que eu vou contar agora, mas antigamente a ideia de criança era bem diferente da de hoje. Antes, elas eram vistas como miniadultos. Isso mesmo, como se fossem gente já formada que por uma inconveniência da natureza eram pequenas, fraquinhas, lentas e famintas para além da conta. 

Depois que a gente começou a entender que criança tem sua realidade própria, começamos a olhar para elas com mais atenção para tentar entender como esse período funciona e concluímos que a infância é um mundo a parte, completa e absolutamente diferente do que entendemos sobre a vida na adultez. 

Ok, eu dei toda essa volta para poder trazer um assunto um pouco mais específico: Tempo - Essa temática é absurdamente ampla, mas vamos tentar afunilar mais pra trazer algo de útil pra vocês. 

Quando começamos a olhar para as crianças com mais cuidado, as neurociências perceberam que o cérebro demora um tempo para ficar completamente maduro. Bom, até aí sem novidade nenhuma, mas vocês sabem quanto tempo demora?

Quando pergunto isso para as pessoas ouço respostas como 7, 10 e até 15 anos. Ledo engano, meus caros colegas pais. Algumas literaturas falam que esse processo só acaba por volta dos 20 anos, outras 25, e algumas falam em até 30 anos! 

Não sei vocês, mas isso me impressiona. De qualquer forma vamos parar de perder tempo e falar de... tempo. Pois bem, uma parte bem complexa desse nosso órgão é o Lobo Frontal e, dentre muitas outras funções importantíssimas, cuida de como percebemos o (adivinhem?) TEMPO. 

Ele faz uma espécie de “curadoria” de informação, onde separa o que é memória (passado), fantasia (futuro) e realidade experienciadas no momento (presente). Na prática, nós adultos conseguimos diferenciar bem isso, por isso não confundimos as coisas e sabemos muito bem o que já aconteceu, o que estamos vivendo e o que estamos planejando, por exemplo. Isso se chama “Filtro de realidade”.

Será que com a criança é assim também? Acho que você já sabe que não, né?! 

Como essa parte da capacidade mental delas está bem “verdinha” ainda, eles podem ter dificuldade de perceber as coisas de forma concreta. Isso quer dizer que podem ter dificuldade de esperar, podem achar que as coisas demoram demais, podem ainda achar que algo acabou de acontecer, quando na verdade ocorreu há muitos dias. 

Podem também desejar alguma coisa e planejar fazer algo, mas aí acreditar que isso já aconteceu. Ah! elas podem até esquecer que as coisas de fato ocorreram, ou distorcer alguns eventos.

Talvez algumas coisas já estejam pipocando na sua cabeça agora. Não sei se você notou, mas falei em “dificuldade de esperar” e “achar que as coisas demoram demais”. 

Todo mundo aqui já percebeu (e se irritou com isso) que a criança simplesmente não entende que daqui 3 MINUTOS ela volta pra brincadeira e que ela só precisa fazer xixi se não vai fazer na roupa. Outras vezes a gente fica completamente incrédulo quando ela fica gritando que quer sair do banho e você, mesmo respondendo que já já iria e que precisava de um minutinho, continuava a ouvir protestos repetidos com sonoplastias cada vez mais elaboradas na tentativa de, imagino eu, materializar a mãe ou o pai na frente do box com toalha nas mãos. 

“JÁ FALEI PRA ESPERAR QUE EU TO INDO!” 

Quem nunca? 

Pelo menos agora você já sabe que ela simplesmente não consegue esperar. Simples assim. O cérebro dela não tem capacidade biológica de aguardar da mesma forma que a gente tem. 

Claro que ela pode e tem de aprender, mas acho que depois desse texto a gente pode ter um pouco mais de paciência e empatia com eles, não é? Respira fundo, acolha, explique e bola pra frente. 

Ah, vale a pena ressaltar que não é só isso que faz com que elas sejam impacientes, ta? Elas também têm muita, muita dificuldade de controlar desejos. Quem faz esse gerenciamento é aquela parte do cérebro que comentei ali acima e, como agora vocês já sabem, ela funciona nas crianças de forma bem limitada. 

Um dia falo aqui sobre desejo, mas vai ficar para outro momento. Como vocês já têm o cérebro formadinho, conseguem esperar. Afinal, tenho certeza de que os colegas já aprenderam a desenvolver paciência. Não é?

Henrique Costa Barros
Psicanalista e Educador Parental
@paz_e_filhos